segunda-feira, 16 de março de 2009

o gastrônomo profissional

Os consumidores vêm se tornando mais atentos a questões de saúde e compram mais produtos orgânicos que nunca, e uma nova geração cresce com maior consciência sobre qualidade alimentar e sobre as questões globais relacionadas à indústria de alimentos. E nesta jovem geração astuta e gastronomicamente ativa surgiu uma nova espécie de expert: o profissional de alimentação, ou gastrônomo.


Uma destas pessoas é Paulo Lima. Em parte aficionado alimentar (o moderno foodie), parte empresário, e parte psicólogo, nosso gastrônomo é motivado principalmente pelo amor e fascínio por tudo que compõe o universo da comida.


Muito antes de o mundo saber que precisava de gastrônomos, Lima estudava, viajava, desenhava um quadro global da geografia da comida, abordava as preocupações crescentes sobre a distância que a comida percorre desde a produção até a mesa, identificava a origem de alimentos de qualidade superior em todo o mundo, e usava suas habilidades de empresário para identificar mercados em potencial.

Ele fazia isto mais como uma maneira de combinar seus maiores interesses na vida do que seguindo algum grande plano, mas quis a sorte que na idade de 30 anos ele já tivesse 8 anos de experiência, um diploma de pós-graduação em Desenvolvimento de Comércio Eletrônico e em Psicologia do Consumidor pela Universidade de Nova Iorque, e um Mestrado em Cultura e Comunicação Alimentar pela Universidade de Ciências Gastronômicas, na Itália.

Lima tornou-se um expert em marketing e em comida e tendências alimentares, e se mantém na vanguarda das novidades desse universo com visitas a mercados de comida na Bulgária, Londres, Bologna, Nova Iorque e Rio de Janeiro; fazendas e plantações na Espanha; fabricantes de queijo no interior da Campanha;, e fabricantes de cerveja e destilados na Alemanha.


expedição em busca de sabores perdidos

O currículo profissional de Lima também reflete esta preocupação com tudo relacionado à comida: ele já foi diretor de tendências e marketing gastronômicos em uma renomada empresa alimentícia internacional. E atuou no ramo da comunicação alimentar, trabalhando como gerente de marketing da Italian Cooking and Living Media Group (La Cucina Italiana) em Nova Iorque.

Em 2007 foi um dos palestrantes nas prestigiosas conferências da Fundação James Beard: Itália e a Dieta Mediterrânea. O especialista está extremamente entusiasmado com as mudanças que vê ocorrerem no mundo alimentar, sobretudo a de uma nova geração de amantes da comida informados e críticos.

Embora Paulo possa ser jovem e parte de uma profissão nova, empolgante e voltada para o futuro, muito de sua expertise envolve certa dose de voltar no tempo, e se não precisamente além da moda (já que a moda é inegavelmente um dos fatores que motiva este novo ramo de negócios da alimentação) e da comida, então pelo menos apesar deles, fazer considerações à moda antiga de questões reais e sustentáveis, trazendo o que costumava ser pequenas questões locais ao olhar público global.

Mas você se pergunta: o que exatamente ele faz? OK. Imagine a seguinte cena: há algumas pequenas fazendas no sul da Espanha onde José e Miguel vêm lutando para obter reconhecimento por seu brilhante trabalho para salvar espécies locais de oliveiras da extinção, usando pequenos pomares que herdaram de seus respectivos avós. Tem sido uma carga longa e dura, e eles somente continuam no ramo devido a sua determinação e a um desejo de fortalecer o vínculo de toda sua vida com seu passado gastronômico: uma paixão motivada por sentimentos de ser parte disto, amor por sua terra, e, talvez, uma memória persistente do sabor destas azeitonas quando os dois eram jovens.


Uma tarefa ingrata à primeira vista, dadas as horas-homem, a labuta e os riscos de falha da colheita. Ainda assim, depois de dez anos, eles produzem uma quantidade modesta de um dos mais esplêndidos azeites extra virgens que sua região viu em anos. É delicioso, é único, e é um fragmento da história. Ah, e custa mais que o dobro da substância engarrafada produzida em massa a não mais que 50 km estrada abaixo.

Eles gostariam de aumentar a produção, estão estudando técnicas de enxerto, e pagam apanhadores para colherem as azeitonas à mão no momento certo antes que elas possam cair e ficar machucadas. Mas eles não parecem conseguir encontrar mercado para seu azeite. Eles sabem que estão a anos-luz à frente dos outros azeites da região em termos de qualidade, mas os outros nativos ou têm seu próprio azeite caseiro, ou não têm interesse ou desejo em pagar o preço mais alo deste azeite de qualidade superior.


Entra em cena Paulo Lima. Este é o tipo de projeto que o motiva.
Não há nada de que ele goste mais que ajudar o mundo a descobrir um “novo” universo de sabores antigos que incorporam tradições e habilidades há muito perdidas, enquanto ao mesmo tempo ajuda a promover um produto de qualidade e a criar marcas globais utilizando técnicas de posicionamento de alimentos e estratégias de marketing eficientes.


sabores locais para o mercado gourmet
Quando trabalhava na Italian Cooking and Living, por exemplo, uma das importantes conquistas de Paulo foi o desenvolvimento de um Clube de Azeite Italiano em que ele foi responsável por localizar pequenos produtores de azeite por toda a Itália, identificando variedades de azeitonas novas ou únicas, e então implantar uma campanha de comunicação eficiente para trazer os produtos a um mercado-alvo norte-americano, uma campanha que resultou em um aumento de vendas de mais de dez vezes e que atraiu cobertura da mídia nacional. E esta tarefa específica de combinar “novos” produtos de qualidade superior com consumidores bem informados, exigentes e receptivos é um dos aspectos favoritos de seu trabalho.


Mas toda esta conversa de marketing e posicionamento de produtos traz à tona a pergunta: quem decide o que comemos? Nós (consumidores), ou eles (especialistas em marketing)? Sem dúvida, nossa herança cultural influencia nossas escolhas sobre que comida compramos, junto com as tradições de nossa pátria e infância e um desejo inconsciente de evocar sabores favoritos de nosso passado.


Mas é claro, há nossas experiências adultas de alimentação, influenciadas, talvez, por viagens a lugares e culturas diferentes do globo. A maior parte de nós prefere pensar que a motivação de experiências sensoriais específicas, como o consumo de boa comida, está dentro de nós, mas os profissionais de marketing alimentar inteligente suspeitam de algo diferente.

Você pode achar que escolhe uma marca de massa em particular porque a provou algumas vezes durante as férias na Itália, mas nossos amigos de marketing sabem que há muito mais que isso. Eles ficam felizes que você tenha ido à Itália e provou a culinária italiana em seu contexto autêntico, de modo que quando você voltar para casa eles possam apontar a direção correta, colocando a marca certa na frente do público certo no momento certo, ajudando as pessoas a encontrar o tipo de comida que querem para o estilo de vida que têm, ou pretendem ter.


marketing alimentar inteligente
Como Lima sabe, o segredo é equilibrar os interesses das diferentes partes: marketing incisivo, porém leve, que atinge o público-alvo. O marketing inteligente pode despertar sentimentos mistos, mas vamos encarar os fatos: sem os Paulos Limas do mundo, perderíamos toda uma gama de produtos novos e empolgantes, e nossos amigos Miguel e José estariam completamente fora do ramo, o que os privaria da satisfação de produzir um produto estelar e nos privaria da possibilidade de degustar este produto.

Para que a promoção de produtos tenha sucesso, o item certo tem que ser levado ao público certo sem que ninguém se sinta decepcionado ou ludibriado de alguma maneira. É uma espécie de serviço de encontros que apresenta a noiva ao noivo depois de confirmar que os dois são compatíveis. Desse modo, o produtor fica feliz, o cliente fica feliz, e o mundo da qualidade alimentar faz progresso.

Mas voltando a nossa pergunta inicial: o que Paulo Lima come? Ele diz que não é caprichoso, mas que gosta de azeitonas do monte Iblei próximo a Ragusa, na Sicília, do primoroso queijo de cabra das colinas de San Pancrazio, na Toscana, do polvo de Capo Palinuro, e do delicioso pão de farinha de mandioca do Brasil, tudo regado a um pinot noir de Vosne-Romanée, na Borgonha, ou uma equilibrada taça de nebbiolo da região de Langhe, no Piemonte.


Achamos que Brillat-Savarin concordaria.
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Gem Stafford

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