quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Uvas e vinhedos da África do Sul

No último artigo da série África do Sul, gostaria de comentar sobre a experiência da uva Pinotage, exclusiva da região, e a premiada vinícola Mongenster. A excelência dos rótulos sul-africanos podem ser comprovados ao mergulhar na história da construção de uma tradição vínícola.


Mongenster é um extraordinário blend, vencedor do prestigiado prêmio 5 estrelas de John Platter, em 2008. Os proprietários Guilio Bertrand e o sócio-enólogo Marius Lategan acreditam que as uvas somente devem ser colhidas quando estão totalmente maduras. Assim, dizem eles, evita-se ao máximo a manipulação do enólogo.


A vinícola é lugar envolvente, desde à arquitetura clean da sala de degustações até a hospitalidade da filha de Betrand. A harmonia do ambiente e a receptividade foram quase tão impressionantes quanto o sabor do blend 2005 de uvas vermelhas.


O primeiro vinhedo foi plantado em 1994, e hoje são 40 hectares com Merlot, Cabernet, Cabernet Franc e pequenas áreas com Petit Verdot. Por quase três séculos a vinícola Mongenster mantém o status de um dos melhores e mais prestigiados terrois da África.


Pinotage, a excelência de uma uva única
Apesar de as uvas Chenin, Chardonnay, Savignon Blanc e Shiraz, serem as mais cultivadas na África do Sul, nenhuma tem o charme, o sabor e a história da Pinotage.

Pinotage foi desenvolvida pelo professor Abraham Perold, em 1925. Ele foi o primeiro professor de Viticultura da Universidade de Stellenbosch e sua intenção era combinar as melhores qualidades das uvas Cinsault, conhecida na região como Hermitage, e Pinot Noir. O nome Pinotage surgiu da junção de Pinot e Hermitage.

Perold iniciou a experiência cultivando quatro sementes de Pinotage no jardim de sua residência. Em 1927, deixou a universidade para trabalhar em um coopertativa local e esqueceu da plantação. Com o tempo, o jardim já havia crecido muito e a universidade enviou uma equipe para limpá-lo.

Um jovem professor, conhecedor da história de Perold, encontrou as plantas e as levou para C.J. Theron, sucessor do professor. Com Theron coordenando o projeto e Perold como conselheiro, o primeiro vinho 100% Pinotage foi produzido em 1941, na cidade de Elsenburg. Em 1961, a vinícola Lanzarac foi a primeira a colocar o nome Pinotage em seus rótulos.

*imagens retiradas dos wallpapers para download no site www.morgenster.co.za

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Paulo A Lima é gastrônomo profissional, carioca e um dos diretores do projeto LA Organic, em Madrid


Stellenbosch, a terra natal dos grand cru’s Sul Africanos

Os vinhedos Sul Africanos ocupam mais de 102 mil hectares e contam com mais de 80 diferentes Denominações de Origem. A África do Sul é o nono produtor de vinhos do mundo. São mais de 4 mil produtores, que representam 3% da viticultura mundial.


A área considerada a capital dos vinhos Sul Africanos localiza-se a 40 km da Cidade do Cabo. A saída do aeroporto foi engraçada. Os carros têm sistema inglês, com o volante do lado direito. A estrada ao Norte de Cidade do Cabo até Stellenbosch é linda com largas planícies e várias pequenas aldeias ao longo do caminho.


As colinas de Stellenbosch são coloridas com tons de bege, verde e azul. A diversidade do solo, traz várias qualidades e classes de granito, dentro de um único rico micro clima. De temperatura moderada, a região aproveita as brisas frias que chegam do mar pelas montanhas, que amenizam o calor do verão.


Este é um terroir perfeito para as uvas crescerem com características e autenticidades únicas. Em Stellenbosch, a temperatura gira em torno de 21 graus. Há apenas 2km do centro, encontra-se o vale de Jonkershoek, considerado por muitos locais como o melhor lugar para o desenvolvimento da uva cabernet suavignon.


Não muito longe de Stellenbosch - entre as pequenas cidades de Boland e Somerset West - fica a área chamada, como a montanha local, Helderberg. De acordo com os produtores locais, o clima temperado do Cabo e as condições perfeitas do solo fazem com que essa parte do mundo seja especial para uvas crescerem.

Esfriados por brisas marinhas no verão, que chega da costa, os vinhedos nas colinas de Helderberg já fizeram seu nome no mercado do vinho, produzindo alguns dos mais premiados rótulos da África do Sul. A rota conta com mais de 20 vinícolas - que vão desde famílias de produtores com tradição em cultivar videiras por mais de 300 anos até boutique.


Alguns dos ótimos vinhos dessa zona são produzidos por:


Alto Wine Estate:
Situado no alto das colinas de Helderberg, com uma inclinação Norte de até 500 metros de altitude, produz ótimas uvas vermelhas. A vinícola ganhou mais de 70 medalhas de ouro em concursos internacionais e degustações de vinho.


Avontuur Wines:
É a única vinícola sul africana com uma mulher no papel de winemaker. Lizelle Gerber também foi a primeira a vencer o prestigioso prêmio SAA Award.


Bilton Wines:
A fazenda existe desde 1694 no pé da montanha Helderberg. As primeiras parreiras foram plantadas em 1726 e o cellar (porta de adega) data de 1824. Desde 1996, eles implementaram um sistema científico para preservar as variedades nobres de uvas. É possível ter informações sobre os melhores micro-terroirs para cada variedade plantada.


Dellrust Wines:
A familia Bredell continua produzindo uvas e fazendo vinho por mais de 100 anos. Albert Bredell faz parte da quinta geração de winemakers de Dellrust. Somente as melhores uvas são vinificadas


Eikendal Vineyards;
É um dos lugares ideais na região, por sua perfeita combinação geográfica entre as montanhas, criando um micro-clima marítimo perfeito para a criação de vinhos de qualidade.



Algumas outras ótimas vinícolas incluem Yonder Hill Wine, Webersburg Wines, Vergenoegd Wine Estate, Vergelegen Wine Estate, Stonewall Wines, Rust en Vrede Wines, Onderkloof Wines, Post House Cellar, Grangehurst Winery, Helderkruin Winery, JP Bredell Wines, Longridge Winery.


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Paulo A Lima é gastrônomo profissional, carioca e um dos diretores do projeto LA Organic, em Madrid

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Garimpagem gourmand na África do Sul


Estive na África do Sul em abril de 2009 para visitar algumas vinícolas e o projeto Slow Food Markets. Já no aeroporto fui recebido por Andrew Adrian, presidente do movimento Slow Food no país. Ele me levou para almoçar com 16 personalidades do mundo vinícola sul africano. O grupo forma a confraria de degustação de vinhos mais antiga de todo o continente. Desde 1976, eles se encontram toda semana para degustar sabores e aromas locais.


À noite, nos encontramos novamente, mas dessa vez na companhia de Ana Prossimi - responsável pela renomada Accademia della Cucina Italiana na África -, e de Juan Antonio Obregon, cônsul geral da Espanha. Ele é um grande entusiasta de produtos de origem e da alta da gastronomia na cidade de Johannesburgo. A garimpagem gourmand trouxe agradáveis surpresas como o mercado secreto do Slow Food, em Stellenbosch; a origem das uvas nacionais chamadas de Pinotage; e a carne seca temperada com cominho, coentro e vinagre do vinho local, conhecida com Biltong. Além de algunas das mais importantes e premiadas vinícolas da região como a Morgenster, que ganhou cinco estrelas no guia John Platter Wine Guide 2009.


Começo a compartilhar a experiência do Stellenbosch Fresh Food Market, o novo e secreto mercado do Slow Food. Em 2006, a médica sul africana Gail Black e Paula Kennedy inauguraram o primeiro mercado de produtos de origem da África do Sul, localizado na cidade de Stellenbosch. Após visitar e reunir produtores locais em grupos de discussão, Gail e Paula conseguiram apoio do projeto Slow Food Markets. A iniciativa reúne matérias primas frescas trazidas de diversas áreas das redondezas de Stellenbosch.


Pequenos artesãos, que ainda cultivam grãos, frutas, verduras e matérias-primas naturais, orgânicas (e convencionais também); e pastores com seus deliciosos queijos levam para o centro da cidade o melhor da produção, exposta em um velho e enorme celeiro. O mercado acontece aos sábados e também abriga padeiros com seus pães e doces, peixeiros que oferecem ostras frescas para degustação, além de muitos sabores e aromas de flores recém colhidas.


No dia em que visitei o Stellenbosch Fresh Food Market estava bastante movimentado. A maioria das pessoas era branca por causa da colonização de ingleses, italianos e franceses. Esta é a segunda colônia européia mais antiga da África do Sul. Outro fator é que na área de Stellenbosch as uvas são protagonistas. Stellenbosch é a principal localização para produção da indústria vinícola sul-africana. A rota foi estabelecida desde 1971 e tem fama internacional.

Esta é a primeira experiência da viagem à África do Sul. Falarei de mais dois temas nas próximas semanas: “A origem das uvas nacionais” e “Pinotage”.
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Paulo A Lima é gastrônomo profissional, carioca e um dos diretores do projeto LA Organic, em Madrid

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